quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Julio Gomes de Almeida, para o Terra Magazine: decisão do BC foi autônoma e baseada em motivos consistentes


Ana Cláudia Barros

Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Julio Gomes de Almeida considerou acertada a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de baixar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, encerrando um ciclo de alta, depois de cinco elevações em 2011. O economista explica que a ação do Banco Central (BC) foi baseada na avaliação de que 2012 virá com um "cenário nebuloso para a economia brasileira".

- É isso que ele está querendo falar. E é possível que isso aconteça. O contexto externo é grave, a desaceleração da nossa economia é forte e o Banco Central está dizendo que, para ele, esse cenário deve prevalecer no início de 2012. Razão pela qual está reduzindo a taxa de juros hoje.

Para Almeida, a medida foi tomada de maneira autônoma, e não sob pressão do Palácio do Planalto, especulação que ganhou corpo devido à declaração da presidente Dilma Rousseff, que, pouco antes da decisão do Copom, manifestou seu desejo de ver juros menores.

- É uma besteira achar que um órgão que tem prerrogativa de fazer isso, que responde com seu prestígio, vai seguir uma decisão de fora. A presidente Dilma falou que quer ver a redução de juros no Brasil, como eu acho que todos os presidentes que passaram por ali falaram. Eu acredito que não teve pressão nenhuma. É uma tolice pensar que as pessoas, cujas cabeças estão a prêmio, vão fazer uma ação baseada em pressão. Não vamos esquecer que a diretoria do Banco Central está protegida. Ninguém seria demitido se tomasse uma medida diferente dessa. Isso não existe. A presidente falou que queria baixar os juros, como muita gente fala quando os juros estão altos.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - O Comitê de Política Monetária do Banco Central não só encerrou o ciclo de alta na taxa básica de juros, depois de cinco elevações em 2011, como também a reduziu em 0,5 ponto. Como o senhor avalia a decisão?
Julio Gomes de Almeida - Primeiro, uma observação: O Copom quando está fazendo uma medida agora na taxa de juros, nós estamos em setembro, é para ter algum resultado no fim do primeiro trimestre do ano que vem. Então, vamos dizer, para efeito de reunião da diretoria do Banco Central para avaliar taxa de juros, o ano de 2011 já acabou. Eles estão mirando 2012, especialmente depois do primeiro trimestre.
Então, o que esta ação está dizendo é que o Banco Central avalia que o (dia) 1º de janeiro de 2012 vai vir com um cenário muito nebuloso para a economia brasileira. É isso que ele está querendo falar. E é possível que isso aconteça. É uma avaliação do Banco Central. O contexto externo é grave, a desaceleração da nossa economia é forte e o Banco Central está dizendo que, para ele, esse cenário deve prevalecer no início de 2012. Razão pela qual está reduzindo a taxa de juros hoje.

A crise externa, inclusive, foi uma das principais justificativas do Copom. O argumento, então, é consistente?
Eu acho. Toda ação do Banco Central tem uma dose de avaliação e esta é a avaliação que ele está fazendo. Eu compartilho dessa avaliação. Foi correta.

A decisão do Banco Central provocou surpresa. Não se esperava uma redução da taxa de juros...
Você tem que ver também que, quando se diz que não se esperava, fala-se do mercado financeiro. Quer dizer, o mercado financeiro dita essas expectativas. E na verdade, estamos sempre acostumados que aconteça isso que aconteceu ontem (quarta-feira) do lado inverso. Ou seja, se existe algum receio de que tem algum indício de que haja no futuro uma maior pressão inflacionária, o Banco Central sempre aumenta a taxa de juros. Isso não é surpresa para ninguém. Sempre que há algum indício de redução das pressões inflacionárias, todo mundo acha que o Banco Central não vai baixar os juros. Se ele baixa, provoca uma surpresa. Ou seja, nossas expectativas são muito assimétricas, porque são formadas pelo mercado financeiro. Temos que nos acostumar a um Banco Central que atue e aposte nos dois lados. De novo, se o Banco Central acha que em 2012 teremos um quadro de crescimento relativamente ruim, ele acertou na aposta que fez. Se não, ele vai ter errado, mas só vai ver isso no futuro. Acho que o Banco Central tem elementos para agir da maneira como agiu.*

Quais os efeitos dessa redução da taxa de juros para a população?
Por enquanto, são poucos. Não é uma variação de 0,5 ponto percentual que vai mudar o bolso das pessoas. A taxa de juros de captação dos bancos cai, mas cai muito pouquinho e nessa dimensão de 0,5 ponto percentual. Agora, muda a sinalização, muda a ideia de que o Banco Central acredita num determinado quadro da economia e acha que pode afrouxar a política monetária. Muda o lado das expectativas, vamos dizer assim.

Essa medida terá rebatimentos no consumo?
Pode influenciar, sim. Na sequência de reduções, pode-se acabar influenciando a expectativa dos consumidores. Os consumidores no Brasil, aliás, estão com umas expectativas declinantes, mas é possível que melhore um pouco a partir dessa medida. De concreto, acho que não muda nada por enquanto. Nem ao nível do consumidor nem do empresário.

A redução da taxa de juros pode impactar a inflação, fazer com que o índice aumente?
Isso por si só, não. O Banco Central está mirando o quadro lá, daqui a seis meses. Ele está pensando em melhorar um pouco a expectativa do consumidor e do empresário num quadro da economia mais fraca. Isso não dá inflação.

A presidente Dilma Rousseff havia pedido juros menores. Na avaliação do senhor, a decisão do BC foi sob pressão ou a decisão foi independente, o orgão se manteve autônomo?
É uma besteira achar que um órgão que tem prerrogativa de fazer isso, que responde com seu prestígio, vai seguir uma decisão de fora. A presidente Dilma falou que quer ver a redução de juros no Brasil, como eu acho que todos os presidentes que passaram por ali falaram. Eu acredito que não teve pressão nenhuma. É uma tolice pensar que as pessoas, cujas cabeças estão a prêmio, vão fazer uma ação baseada em pressão. Não vamos esquecer que a diretoria do Banco Central está protegida. Ninguém seria demitido se tomasse uma medida diferente dessa. Isso não existe. A presidente falou que queria baixar os juros, como muita gente fala quando os juros estão altos.

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