quarta-feira, 5 de maio de 2010

Estadão: ecologistas "esquecem" que a vida na terra nunca foi tão boa, escreve jornalista americano

Artigo publicado pelo Estadão.

Não sei se concordo com o texto. A própria premissa de medir qualidade de vida com base na riqueza e na disponibilidade e variedade de bens não me agrada muito. Mas, no mais, talvez seja algo a se pensar.


Apesar da poluição e da fome persistente, não há como negar que chegamos longe

05 de maio de 2010

Michael Shermer - O Estado de S.Paulo
LOS ANGELES TIMES

Virou moda entre ambientalistas de hoje pintar um quadro sombrio de nosso futuro. Embora existam muitas questões ambientais por resolver, muitas espécies ameaçadas, mais poluição do que a maioria de nós gostaria e gente demais passando fome todos os dias, não vamos esquecer de como chegamos longe, tendo começado 10 mil anos atrás.

Naquele tempo, todas as pessoas viviam como caçadoras-coletoras em relativa pobreza comparada com hoje. O quanto elas eram pobres? Se alguém entrar hoje numa aldeia ianomâmi no Brasil - uma boa analogia de como viviam nossos ancestrais - e contar as ferramentas de pedra, cestos, pontas de flecha, arcos, redes de dormir, vasos de cerâmica, outras ferramentas diversas, vários produtos medicinais, bichos de estimação, produtos alimentícios, artigos de vestuário, etc., não contaria mais de 300 artigos. Há 10 mil anos, essa era a riqueza material aproximada de cada aldeia do planeta.

Em contraste, se entrar na aldeia de Manhattan hoje e contar todos os produtos diferentes disponíveis em lojas de varejo e restaurantes, lojas de fábrica e superlojas, terminaria com um número estimado de cerca de 10 bilhões (com base na conta pelo sistema de código de barra UPC). Antropólogos econômicos estimam que a renda anual média de caçadores-coletores tenha sido de cerca de US$ 100 por pessoa e a renda anual média por pessoa em grandes cidades esteja em torno de US$ 40 mil.

Se já houve um grande salto à frente, essa é uma evidência. Eric Beinhocker em seu livro, The Origin of Wealth (A origem da riqueza) estimou que a renda anual de US$ 100 por pessoa só cresceu a cerca de US$ 150 por pessoa até 1000 a. C. e não excedeu a US$ 200 por pessoa até depois de 1750 e o começo da Revolução Industrial . Hoje, a média é US$ 6.600 por pessoa por ano para o mundo inteiro. Claro, a magnitude da riqueza é muito maior para as pessoas mais ricas nos países mais ricos.

Como mostra Gregg Easterbrook em The Progress Paradox (O paradoxo do progresso), nos últimos 50 anos, os padrões de vida aumentaram dramaticamente. O Produto Interno Bruto per capita em 1950, computado em dólares de 1996, era de apenas US$ 11.087, ante US$ 34.365 em 2000.

E mais pessoas estão subindo na hierarquia econômica. Em 2000, um quarto dos americanos ganhava pelo menos US$ 75 mil por ano, o que os situava na classe média alta, em comparação com 1890, quando somente 1% ganhava o equivalente a esse valor. Desde 1980, a porcentagem de pessoas que ganham US$ 100 mil ou mais por ano, em dólares de hoje, dobrou. O que podemos comprar com esse dinheiro também aumentou significativamente. Um cheeseburger do McDonald"s custava 30 minutos de trabalho nos anos 50, três minutos de trabalho hoje.

Também temos mais bens materiais - de veículos a roupas de grife e engenhocas de todo tipo. Isso não é tudo. O crime diminuiu. A maioria das taxas de criminalidade em toda parte despencou ao longo dos anos 90. Os americanos de hoje também têm uma semana de trabalho mais curta, com uma queda acentuada do total de horas trabalhadas nas últimas 15 décadas. Por causa disso, seria perfeitamente são rejeitar uma viagem na máquina do tempo a qualquer ponto do passado. Sem menosprezar problemas que ainda precisam ser resolvidos, é tempo de reconhecer que esta é uma vida melhor para mais pessoas em mais lugares. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

É PUBLISHER DA REVISTA "SKEPTIC" E COLUNISTA DA "SCIENTIFIC AMERICAN"V

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