quinta-feira, 8 de abril de 2010

Brasil Econômico: O governador Cabral e o direito ao desabafo.

Artigo públicado pelo Brasil Econômico.

08/04/10 07:22 | Ricardo Galuppo - Diretor de Redação do Brasil Econômico


O tom era de desabafo. Mas o governador Sérgio Cabral foi muito lúcido na última terça-feira, quando culpou a demagogia pela quantidade absurda de mortes em função das chuvas que desabaram sobre o Rio de Janeiro.

Cabral criticou as pessoas que construíram casas em áreas de risco, mas não deixou de fora aqueles que - mais no Rio do que em outras grandes cidades - têm o hábito de condenar como autoritária qualquer tentativa do poder público de colocar ordem em um modelo urbano falido.

O Rio e o Brasil estão de luto pelas mais de 130 mortes desta semana. Mas também estão diante de uma oportunidade única de encarar problemas que se acumularam ao longo de décadas.

Sem ignorar que a quantidade de chuvas que caiu sobre a cidade foi anormal, o Rio apresenta problemas que se manifestam de maneira distinta. Mas, no fundo, têm uma mesma causa: a falta de vontade de resolvê-los.

Justiça seja feita, Cabral é o primeiro governante do Rio que, em muitos anos, não lavou as mãos diante da violência e do tráfico de drogas nas favelas nem tentou cobrir esse lixo com o tapete dos "problemas sociais" insolúveis.

Ao ordenar a ocupação de algumas comunidades pela polícia, seu governo fez a primeira tentativa da história de levar segurança a cidadãos normalmente desassistidos nesse quesito.

Meses atrás, quando falou em construir muros para evitar que a construção desordenada de casas em alguns dos morros da cidade avançasse sobre áreas de preservação, o governador foi acusado de tentar segregar as populações das favelas.

Agora, todo mundo vê que a medida não apenas é necessária como, talvez, não seja suficiente para resolver o problema.

As mortes no Rio foram provocadas por construções em áreas de risco, pelo lixo acumulado nas encostas e, acima de tudo, pela inépcia de autoridades que, no passado, viram problemas como esses se alastrar e não agiram para resolvê-los.

Cabral não pode ser acusado de omissão: já estava agindo antes de a tragédia acontecer. Tem, portanto, o direito de desabafar.

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