sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Novae: há um mês, Aécio dizia: "converso com Arruda toda semana", escreve José de Souza Castro.

 Artigo do NovaeÇ

Aécio de barbas de molho

José de Souza Castro

No dia 21 de maio deste ano, Aécio Neves se encontrou em Brasília com José Roberto Arruda e, em entrevista, disse:


Não posso vir a Brasília sem visitar o governador Arruda, que vem se consolidando no Brasil como um dos melhores gestores desta geração de governadores, para orgulho de todos os mineiros, seus conterrâneos. Vim também hoje conversar sobre uma oportunidade que pode ser extremamente interessante tanto para a população do Distrito Federal quanto para a população de Minas Gerais, que é a principal acionista da Cemig.
Vim manifestar ao governador Arruda um oficial interesse da Cemig em construir uma parceria com a CEB. Uma parceria no campo gerencial, a Cemig pode incorporar o know-how, a credibilidade que tem hoje, é líder em sustentabilidade em todo o mundo, respeitada dentro e fora do Brasil. Além disso, alavancar recursos que possam permitir ao governador Arruda fazer os investimentos que ele tanto quer fazer, principalmente na melhoria da qualidade da distribuição de energia”.

Aécio Neves esperava que teria, dentro de uns 60 dias, mais notícias a dar sobre essa parceria. E acrescentou ter tratado com o colega do Distrito Federal de outros assuntos, entre eles, política e

“ações administrativas, onde temos uma sinergia muito grande. O governador Arruda e sua equipe têm uma relação muito próxima com a minha equipe, na área da educação, da saúde, enfim, temos uma identidade muito grande na visão de como gerir a coisa pública. Somos de uma geração que, tanto o Arruda como eu, introduzir o tema de gestão publica de qualidade na agenda nacional. Acho que temos que superar uma falsa dicotomia entre aqueles que consideram a gestão de qualidade algo distante dos avanços sociais. Ao contrário, na minha avaliação e creio que na do governador Arruda, não existe nenhuma ação de maior efeito social do que a boa aplicação do dinheiro público, do que você gastar o dinheiro público com prioridades corretas, com acompanhamento correto, sem desvios, sem desperdício. Eu acho que temos conseguido, com os bons resultados de Minas e do Distrito Federal, de alguma forma, inspirar, e alguns governadores têm feito algo na mesma direção, ajudar a inspirar o Brasil, no plano central a prestar um pouco mais de atenção nos resultados da gestão pública”.

No dia 29 de setembro, os dois governadores se reuniram de novo na capital federal. Na coletiva depois do encontro, Aécio disse o seguinte:

"Eu converso com o governador Arruda todas as semanas praticamente, quando não pessoalmente, por telefone."

Sei não, mas penso que, se pudesse voltar atrás, Aécio passaria uma borracha sobre essas palavras, que na época foram distribuídas sem receio pela Agência Minas, ligada ao Palácio da Liberdade. Suponho que, passados menos de seis meses, o conceito do tucano Aécio Neves sobre o “demo” Arruda ficou um pouco diferente por culpa da Polícia Federal e da imprensa nacional.

Fiz uma pesquisa no Google e não vi nenhuma declaração de Aécio a respeito da crise que atinge em cheio o colega. É o momento de calar-se, talvez, à espera de que a nuvem mude de novo de formato.

Não é o que pensa, porém, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que anunciou nesta terça-feira que seu partido vai abandonar o governo de José Roberto Arruda. Avisou que os tucanos que não deixarem o governo serão expulsos do partido. São três os secretários (Obras, Márcio Machado, que é também presidente local do partido; Governo, José Humberto Pires; e Fazenda, Valdivino Oliveira), mas os tucanos ocupam ainda outros 100 cargos no governo do Distrito Federal. Há também dois deputados distritais do PSDB que fazem parte da base de apoio do governador na Câmara Legislativa. Dos 24 deputados distritais, sete fazem oposição ao governo.

E em Minas, quantos são os deputados que fazem oposição a Aécio?

Não sei, mas acho que nosso governador não tem o que temer na Assembléia Legislativa (e na imprensa e no Ministério Público e no Judiciário) e pode se dar ao luxo de falar e calar quando achar conveniente. Agora talvez seja a hora em que um bom tucano entra na muda. Por outro lado, é também um momento de reflexão: o que deu errado nas ações administrativas de Arruda e que poderia ser também um desastre para Aécio – pois há nelas uma “sinergia muito grande”?

Espero que o governador e seus assessores estejam meditando a respeito, mas haverá tempo de mudar, antes que o mandato chegue ao fim?

Uma das sinergias que percebo, nessa ação governamental do tucano e do demo, é a forma como ambos conseguiram calar a imprensa em seu território. É possível que um dos efeitos desse controle esteja aflorando agora e submergindo o governador Arruda na lama.

O dono do jornal "Tribuna do Brasil", Alcyr Collaço, apareceu em vídeo guardando seis maços de notas na cueca, parte do esquema do mensalão do DEM.

Já o principal jornal brasiliense faz parte, como o “Estado de Minas”, do grupo fundado por Assis Chateaubriand, e tem como principal executivo o mesmo jornalista.

Ricardo Noblat, que foi diretor de Redação daquele jornal e acabou expulso dos Diários Associados – era um dos condôminos – porque levou o “Correio Braziliense” a fazer oposição feroz contra Joaquim Roriz, o antecessor de Arruda, escreveu ontem em seu blog que o jornal tentava restringir a crise aos parlamentares distritais que receberam o mensalão, tirando o governador da brasa.

Não tenho muito interesse em ler o “Estado de Minas” e não sei o que vem publicando a respeito. Mas suponho que os mineiros que quiserem se informar bem sobre o caso devem ler um outro jornal

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