terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nassif: a nossa oposição se matou.

Segue o excelente artigo publicado por Luis Nassif em seu blog.

A análise feita pelo Nassif me parece realmente muito boa, ainda que não concorde com todos os pontos.

Ele identifica três "entidades" (Serra, PSDB e oposição) como uma só, para depois concluir que eles foram tangidos pela mídia. No entanto, a oposição não é só o PSDB, que, por sua vez, não é só o Serra. Assim, ainda que o Serra não compartilhe com a mídia seus mantras irracionais, isso não quer dizer que o restante do PSDB e da oposição tenham apenas seguido um pensamento único a eles imposto.

A real relação entre Serra, PSDB e oposição me parece, ademais, muito mais dialética do que aquela traçada por ele. As meninas da mídia e seus comparsas bebem da fonte do próprio PSDB e da oposição, que se retroalimenta e reafirma na mídia, e assim por diante. Quanto ao Serra, acho que, nesse jogo, ele fez bem mais que calar.

Por outro lado, não concordo que a oposição, ou mesmo o Serra, tenha abandonado o barco da mídia. Além de, como disse, não achar que esse barco seja realmente só da mídia, mas comum a ela e a setores da oposição e do PSDB, não vejo sinais desse afastamento entre eles, ao menos no que tange à oposição enquanto grupo politicamente articulado. Explico.

Tenho notado, e talvez seja a isso que o Nassif se refere, que parte dos grupos sociais tradicionalmente opositores ao Lula e ao PT estão efetivamente se distanciando do discurso monocóridico e vazio adotado pela oposição partidária e pela mídia. Talvez por perceber como este discurso afastou-se da realidade e aferra-se a premissas superadas e a meras disputas por poder, tendo em vista inclusive seus próprios interesses econômicos, parte de nossa elite, antes refratária ao governo e a suas políticas, estaria se permitindo uma segunda olhada. E gostando do que está vendo.

A oposição partidária, entretanto, acho eu, se mantém tão raivosa e cega quanto antes, pregando nada, acerca de nada e, cada vez mais, para ninguém.
A oposição partidária e a mídia não enxergam o país que se move diante delas, e tampouco a movimentação da elite que acreditam ainda representar. E essa elite, ou parte dela ao menos, sim, parece ir, de fato, abandonando o barco da oposição e da mídia partidárias e suas gritarias dogmáticas, de olho num país que muda e atenta às razões políticas e econômicas desta mudança.

Por fim, já que a introdução vai ficando maior que o texto que introduz, uma última constatação. Esse fenômeno, do súicídio de nossa oposição partidária e da mídia a ela coligada, é, ao mesmo tempo, triste e perigoso.

Triste, pois uma oposição e uma mídia críticas me parecem essenciais para a criação de caminhos e o aperfeiçoamento de projetos e programas; perigoso, pois elas seriam também essenciais ao equilíbrio de poder necessário a uma democracia.


Um dos fenômenos mais ridículos dessa longa noite de insanidade política dos últimos anos, foi a terceirização da política pelo PSDB (clique aqui para ler post sobre o tema).

Aqui analisei esse fenômeno, que é facilmente explicável:

José Serra assumiu a herança de FHC. Juntos, vieram colunistas políticos e econômicos adeptos da internacionalização, do suposto papel civilizatória dos mercados, do racionalismo vesgo contra qualquer forma de gastos sociais, tendo como tacape um iPod que repetia mantras, slogans e refrões. Jamais conseguiram entender o pais como um todo, composto de mercados eficientes, sim, mas também de políticas públicas, políticas sociais, indústria, agricultura, movimentos sociais.

As idéias de Serra não batiam com o reducionismo deles. Em vez de cumprir o papel de líder, convencendo-os de que os tempos mudaram, de que esse neoliberalismo exacerbado era coisa velha até para os mercadistas empedernidos, que política e política econômica são feitas com pragmatismo e não com ideologização de porta de banco de investimento, o neo-Serra decidiu não entrar em nenhuma dividida. E se eximiu da função básica de qualquer candidato a líder: fornecer o fio condutor das idéias capaz de organizar o discurso de seus liderados.

Com o campo das idéias em aberto, sem ninguém para os coordenar, a comitiva midiática desembestou. Imersos em um ataque continuado de megalomania, colunistas se viram como os novos heróis da civilização cristã ocidental, que fez com que as meninas daqui, colunistas culturais e de variedades dali, colunistas políticos e econômicos, até cronistas de costumes, poetas e produtores musicais do eixo Paulista-Ipanema se transmudassem em condutores de povos. Disseminando o quê? Slogans, preconceitos e fel.

Imagino meus amigos colunistas políticos e econômicos em um palanque lavando as mãos com álcool depois de cumprimentar qualquer um do “povo” – aliás, único ponto em comum com Serra. Só o fato de se lembrarem que um dia foram povo já os deixa com crises existenciais profundas. E foram eles que passaram a “ensinar” ao PSDB como falar para o povo e como falar para a elite.

No continente, todas as políticas neoliberais geraram derrotas políticas estrondosas e o advento de governos populares (como Lula), ou populistas (como Chávez). No campo popular, essa insensibilidade sepultou partidos e governantes. No campo dos conceitos, o neoliberalismo virou pó com a eclosão da crise. E nossos condutores de povos, conhecendo apenas o ambiente restrito e auto-referenciado de suas fontes, pretendendo orientar a oposição sobre como se comunicar com o Brasil. Mal conhecendo a Avenida Paulista e o Itaim, queriam expelir regras para o país. O Brasil se tornou o museu da cera desse neoliberalismo de orelha de livro.

Agora, caiu a ficha da oposição. E as meninas, impossíveis, passam a puxar a orelha de todo mundo, do governador A, que teve um gesto de gentileza aqui; do B, que compareceu a uma cerimônia com Lula ali; do C, que não xingou o Judas do presidente acolá.

A oposição abandonou os condutores de slogans. Porém, tarde demais para reconstruir seu discurso político.

O grande desafio, daqui para frente, será a construção de uma nova oposição, provavelmente de centro-direita – elemento fundamental para o aprimoramento das instituições nacionais. A atual, morreu. Ou melhor, suicidou-se.

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