sexta-feira, 12 de maio de 2017

Dilma, a guerrilheira que perde o ponto - ou não apaga o email


Fonte: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/2606iolandagmail-com/


A imagem acima reproduz uma ata notarial entregue pela Mônica Moura como prova de uma de suas alegações à força tarefa da Lava Jato, dadas em troca de sua liberdade.

Segundo a delatora, com dados falsos, ela e Dilma teriam criado uma conta no Gmail, para se comunicarem com segurança.

A comunicação se daria por meio da criação de rascunhos de mensagens, que poderiam ser lidos pelas duas sem transitarem entre contas na rede.

E, de fato, a ata prova que a conta de email existia. Afinal, um tabelião a acessou e atestou a existência e a veracidade dos prints.

Mas parece forçado dizer, como já tem gente dizendo, que ela prova o compartilhamento da conta.

Mas tem mais uma coisa um tanto ridícula na história.

A ata notarial foi lavrada em 13 de julho de 2016 (https://pbs.twimg.com/media/C_ptfFgWsAE5sup.jpg:large). Isso quer dizer que os prints representam o conteúdo da conta de email naquele momento.

O print que aí de cima mostra que, em 13 de julho de 2016, repito sim, havia apenas um rascunho na caixa.
Providencial, o rascunho foi criado em 22 de fevereiro, dia em que a Polícia Federal tentou executar os mandados de prisão da Mônica e de seu marido (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1742270-com-prisao-decretada-joao-santana-e-sua-mulher-chegam-ao-brasil.shtml.)

Obviamente, como não poderia deixar de ser, ele sugere uma mensagem cifrada sobre um espetáculo.

No dia seguinte, eles voltaram ao Brasil e se entregaram a polícia.

Pouco tempo depois, em 08 de março, começaram a circular notícias de que a hoje delatora negociava sua colaboração premiadíssima (http://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/mulher-de-marqueteiro-do-pt-negocia-delacao-premiada.html).

Em 04 de abril, surgem notícias de que o MPF fechara o acordo para comprar a delação da Mônica de seu marido (http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/joao-santana-e-monica-moura-fecham-acordo-de-delacao-premiada-na-lava-jato.ghtml).

E, aí, vem a parte tragicômica da prova: neste tempo todo, quase cinco meses desde a prisão, Dilma e seu assessor, que também teria a senha, não se lembraram de entrar na conta e encerrá-la ou, ao menos, apagar o rascunho supostamente incriminador?

É pra levar isso a sério mesmo?

Uma das poucas presas pela Lava Jato que, por acaso, teve chance de preparar sua própria prisão apresenta uma coisa dessas como prova e os investigadores aceitam?

Para quem quer, deve ser mais fácil imaginar um ex-guerrilheira desleixada, do que uma marqueteira aproveitando o tempo que lhe resta de liberdade para criar provas. Provas a serem trocadas por sua liberdade e por uma boa fatia de sua fortuna.

Para mim, é difícil de acreditar;

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O ódio e cada um de nós. O ódio e eu.

Isto não é um artigo; isto não tem qualquer relevância. É um questionamento pessoal, um desabafo, um descarrego, uma descarga. E, como tal, terá, é provável, o conteúdo e forma do que normalmente vai nelas. Será publicado sem revisão ou releitura.

A gente, quase todo mundo, se impressiona com o caldo de ódio em que nos metemos. A gente, quase todo mundo, se assusta com ele. A gente, quase todo mundo, o critica. A gente, quase todo mundo, vai sendo arrastado para ele sem perceber. A gente faz parte: de dentro; de fora calando; de fora sendo arrastado; de fora criticando, talvez também.

Aliás, de fora criticando, a gente pode também acabar inviabilizando o debate. De fora criticando, a gente pode acabar louvando a imparcialidade inoportuna, a isenção e o cinismo.

Mas isso não vem ao caso.

O “caso” é até que ponto podemos ir na tomada de posição, na crítica, sem caminhar para o ódio. O “caso”, na verdade, é até onde eu quero ir na tomada de posição? Toda crítica contundente é expressão de ódio? 

*****

Durante muito tempo, meu irrelevante perfilzinho fake no Twitter tentou manter certa moderação. Que eu me lembre, nunca xinguei ninguém, por mais ácido que tenha sido. Que eu me lembre, nunca participei de linchamentos, ao menos não intencionalmente e com agressões baixas.

Sempre tentei não entrar nessa, pois: (a) não gosto; c) nunca achei produtivo; e (c) achava injusto fazê-lo sem dar a cara a tapa, usando um fake (ou pseudônimo, já que nunca fingi ser outra pessoa ou usei qualquer estratégia pra me esconder). 

Mas isso também não vem ao caso.  Ou melhor, isto aqui tá ficando com cara de autodefesa – não era a ideia.

*****

Ontem, uma das pessoas mais gentis e corretas (intelectualmente honestas) que o Twitter me deu o prazer de seguir parece ter sido alvo das matilhas que caçam por lá. E, claro, sofreu imerecidamente (existe sofrimento merecido?).

E é aí que, mesmo sem ter participado, entro eu e este descarrego.

Não, eu não concordo com todas as conclusões a que ela chegou. Não sei se todas as críticas pesadas são linchamento; não sei se todos que as fazem são mesmo parte de matilhas; não sei se a intenção sempre é mesmo destruir e calar o criticado; e não sei se o perfil do criticado não tem que entrar no juízo sobre o crítico (crítico, não o pura e simplesmente agressor).

Mas sei que há certa razão na indignação.

E tenho que pensar sobre o que posso mudar: eu.

*****

Há uns meses, fixei um tuite no perfil mais ou menos assim: moderação; tinha, mas acabou.

Foi ali pela mesma época em que, diante da nossa situação, achei que o momento impunha o suicídio do pseudônimo. Cara e nome real foram para o perfil.

Ele, é claro, manteria a mesma razão de ser: o espernear, os desabafos irrelevantes de quem não é ninguém na fila do pão. Mas, em momento tão crítico, os desabafos tendiam mesmo a perder qualquer moderação – ou deixariam de serem desabafos.

E usar a própria cara e o próprio nome me liberou para “confrontar” (com aspas, pois minha adorada irrelevância inviabiliza elevar meus chistes à confrontação) diretamente alguns formadores de opinião, em sentido amplíssimo.

Que me lembre, por mais ácido que tenha sido, nunca xinguei ninguém. E só confrontei pessoas cujas posições, me parece, lhes conferem certa responsabilidade social, pessoas com lugar na fila do pão (função + visibilidade + uso dessa conjunção de fatores).

*****

Não posso fingir que não vi acontecer. Mas parece que, pela soma destas desculpas autocomplacentes (?), talvez não tenha enxergado.

Não xinguei. Ok.

Sou irrelevante. Ok.

Os alvos eram atores socialmente responsáveis. Ok.

Mas e daí?

Mesmo sem intenção de atrair matilhas, mesmo que as minhas confrontaçõeszinhas não pretendam conscientemente calar ninguém, mesmo que sejam só o espernear possível para um "fora da fila de pão", a verdade é que elas não levam a lugar nenhum.

Ou melhor, talvez sim. Talvez (certamente?) me levem em direção ao ódio. Talvez (certamente?) sejam mais um pinguinho no caldo de ódio, que ameaça nos escaldar a todos.

Provavelmente, é uma ideia boba. Mas tenho a impressão que estas coisas meio amorfas, os sentimentos pessoais e sociais, se acumulam. Quanto mais cada um afirma a própria raiva, ela vai acumulando em si - e nos grupos, na sociedade. Ela vai acumulando e levando cada um, e a sociedade, a este transbordar de ódio.

E, claro, nada de bom pode vir daí. A raiva e o ódio não nos ensina nada – pessoalmente ou socialmente. 

Acho.

E não quero. Não quero.

Ainda vou pensar melhor sobre a legitimidade do uso das redes sócias pelos “sem voz” para a confrontação dos atores socialmente responsáveis em função do poder de suas vozes.

Provavelmente, nunca acharei isso realmente errado – dentro de alguns padrões, que não incluem agressões e linchamentos organizados.

Mas não. Não quero.

Não vou criticar a utilização moderada das redes sociais pra falar com os atores sociais “relevantes”, para confrontá-los.

Mas não. Não quero. Não está sendo bom.

*****

Os fatos de ontem me ajudaram a acordar para o cheiro ruim que vinha sentindo.

Estava tão próximo, que não poderia mesmo vir só dos outros.

****

Enfim, vou tirar aquele alerta fixado no meu perfil.

E procurar um novo lugar na escala de moderação.

Vou tentar achar um lugar que não transforme minha permanência no Twitter em acumulação improdutiva de raiva.

Este lugar vai continuar crítico – ou o perfil não teria razão pra existir.

Este lugar vai continuar tendo os desabafos – ou o perfil não teria razão pra existir. 

Mas, principalmente, este lugar vai tentar não confrontar @s pessoais, mesmo de atores socialmente responsáveis. Não acho que seja relevante pra isso, mas não quero provocar matilhas. Diante do quadro, não acho que adiante, mas não quero fomentar (e fermentar) minha raiva.

Este lugar vai, enfim, tentar não participar do enchimento do caldeirão de ódio. Seja lá o que isso signifique.

Quem sabe se, sem pessoalizar a indignação, ela se torne algo mais produtivo que raivinhas – e ódio.

*****
In dubio, mea culpa. (Esse latim deve estar errado, mas a piadinha vai ficar aí.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Moro, a Lava Jato e as comparações com a Mãos Limpas, na visão de um historiador inglês.


Este texto, porcamente traduzido, é apenas um trecho de um artigo escrito pelo historiados inglês Perry Anderson.

O link para o artigo, que merece a leitura, está embaixo.


Nesta dramática escalada de crise política, o jogador central foi o Judiciário. A noção de que a operação de Moro em Curitiba agia com imparcialidade, inicialmente defensável, foi arruinada com o teatro gratuito, orquestrado com a mídia, de seu ataque de madrugada a casa de Lula, seguido de uma mensagem pública saudando as manifestações pelo impeachment de Dilma: "O Brasil está nas ruas", ele anunciou. "Estou tocado".


Em seguida, com a publicação de escutas de um telefonema entre Lula e Dilma, feito horas depois que a gravação deveria ter sido interrompida, ele quebrou a lei duas vezes: violou o sigilo que cobre tais interceptações, mesmo quando permitidas, para não falar da confidencialidade que supostamente protegeria as comunicações do chefe de estado. Eram tão patentes essas ilegalidades, que elas levaram a uma morna repreensão do juiz do Supremo Tribunal Federal, a quem Moro formalmente responde, mas nenhuma sanção foi imposta. Apesar de 'inadequado', seu superior suavemente observou, a sua ação tinha alcançado o efeito desejado.

Na maioria das democracias contemporâneas, a separação de poderes é uma polida ficção, com as supremas cortes em geral (a americana é uma exceção intermitente) inclinando-se para a vontade dos governos do dia. As contorções do Tribunal Constitucional alemão, frequentemente lembrado como um luminoso exemplo da independência judicial, confirmando violações da Grundgesetz (Constituição) do país e do Tratado de Maastricht a mando de sucessivos regimes em Berlim, pode ser tomadas como o normal.

No Brasil, a politização da mais alta magistratura é uma longa tradição. A figura ubuesque (absurda?) de Gilmar Mendes talvez seja um caso extremo, mas revelador. Como presidente, Cardoso protegeu seu amigo de acusações legais dando-lhe status ministerial antes levá-lo ao Supremo Tribunal - Mendes agora condena Dilma por fazer isso com Lula. Lá, para evitar a atenção indesejada, Cardoso iria se esgueirar para dentro do prédio, pela garagem subterrânea, para conversar com ele. Flagrantemente partidário demais do PSDB até mesmo para Eliane Cantanhede - "tucano demais" (o pássaro é o símbolo do partido) -, uma entrevistadora admiradora da direita, ele podia ser visto almoçando festivamente com líderes proeminentes do partido após absolvê-los de crimes - e não hesitou em empregar fundos públicos para matricular subordinados em uma escola privada de direito que mantêm, para o lucro, enquanto senta-se, como juiz, no mais alto tribunal da nação. Suas diatribes contra o PT são legendárias.

Sérgio Moro, uma geração mais jovem, é de outra cepa. Os Estados Unidos, que ele costuma visitar, são sua terra de referência. Um batalhador provinciano, ele não deve nada ao clientelismo ou comércio. Mas logo no início - acabara de passar dos trinta - ele mostrou sua indiferença aos princípios básicos da lei ou das regras de evidência em um artigo exaltando o exemplo dos magistrados italianos da década de 1990, "Considerações Sobre a Operação Operação Mãos Limpas ', em termos que anteciparam seus procedimentos de uma década depois.

Sem nenhuma tentativa de pesquisar a extensa literatura sobre Tangentopoli, ele contentou-se com dois encômios do grupo de Milão disponíveis para leitores americanos, citados sem uma de pitada de reflexão crítica, e tomou as alegações de um arrependido chefe da máfia sustentado pelo Estado como um evangelho, apesar de sua rejeição no tribunal. A presunção de inocência não pode ser considerada como "absoluta", ele declarou: é apenas um "instrumento pragmático", que pode ser suplantado pela vontade do magistrado. Os vazamentos para a mídia, ele celebrou como uma forma de "pressão" sobre réus, onde "objetivos legítimos não podem ser alcançados por outros métodos."

O perigo de um sistema judicial atuando neste espírito é o mesmo para Brasil que foi para a Itália: uma campanha absolutamente necessária contra a corrupção se torna tão infectada com desrespeito ao devido processo legal e o conluio sem escrúpulos com a mídia, que, em vez de incutir qualquer nova ética de legalidade, acaba confirmando o antigo desrespeito social com a lei. Berlusconi e sua herança são a prova viva disso.

A cena no Brasil difere da situação em Itália, no entanto, em dois aspectos.

Nenhum Berlusconi ou Renzi estão à vista. Moro, cuja celebridade agora excede a de qualquer um de seus modelos italianos, sem dúvida será chamado a preencher o vácuo político, se a Lava Jato fizer uma limpeza da velha ordem. Mas o destino medíocre de Antonio Di Pietro, o mais popular dos magistrados de Milão, ergue-se como um aviso para Moro, de qualquer maneira, à primeira  vista, mais genuinamente puritano, contra a tentação de entrar na política. O espaço para uma ascensão meteórica também parece ser menor, por causa de uma outra diferença fundamental entre os dois cruzados contra a corrupção. O ataque a Tangentopoli atingiu os governantes tradicionais do país, a Democracia Cristã e o Partido Socialista, que tinham estado no poder juntos por trinta anos, enquanto a Lava Jato fez mira política não nos governantes tradicionais do país, os quais, até agora, poupou, mas nos iniciantes que os substituíram. Ela parece muito mais parcial, e assim sectária.

O sectarismo foi extremamente acentuado por uma segunda diferença entre a Itália da década de 1990 e o Brasil de hoje. Quando Tangentopoli atingiu o sistema político, os meios de comunicação italianos formaram uma paisagem heterogênea. Em geral, jornais independentes tendiam a apoiar o sistema judicial em Milão. O conglomerado do chefe da Olivetti, De Benedetti, onde a maioria dos vazamentos apareceu na imprensa, alardeou as acusações contra Democratas Cristãos e Socialistas, mantendo o maior silencio que podia sobre os outros, que envolviam seu dono. O império de televisão e imprensa de Berlusconi atacou os magistrados. O resultado foi que, com o passar do tempo, houve muito mais questionamento das ações dos diferentes níveis da magistratura - muitas muito corajosas, outros muito dúbias - que no Brasil.

No Brasil, os meios de comunicação têm sido monoliticamente partidários na sua hostilidade ao PT e acrítica da estratégia de vazamentos e pressões de Curitiba, de que tem agido como o caixa de ressonância. O Brasil possui alguns dos melhores colunistas do mundo, cujos escritos analisaram a crise atual em um nível literário e intelectual muito acima do Guardian ou New York Times. Mas essas vozes são em número bem menor que o de uma floresta de conformistas ecoando as perspectivas dos proprietários e editores.

Comparar a cobertura dos meios de comunicação para qualquer vazamento ou revelação danosa ao PT com o tratamento dado à informação ou rumor que afeta a oposição é medir a extensão de seus padrões duplos.

Enquanto a Lava Jato se desenrolava, um exemplo pungente cintilava, Em 1989, um dos mais famosos pontos de virada da história moderna brasileira, Lula, então ainda um radical perigoso, aos olhos do estabelecimento, tinha ao seu alcance a vitória em sua corrida inicial para a presidência. Alguns dias antes do votação decisiva, uma ex-namorada apareceu em um programa de televisão do seu adversário, Collor, paga pelo irmão de Collor, acusando Lula de querer abortar uma criança que ela esperava. A repercussão, ampliada ao limite pela mídia, garantiram sua derrota no dia da votação.

Dois anos mais tarde Cardoso, então senador de destaque do PSDB, já apontado como um futuro candidato presidencial, era conhecido nos círculos políticos por ter uma amante trabalhando para a mesma cadeia de televisão, TV Globo, que arruinou Lula. Quando deu à luz uma criança, ela foi levada a sair do país, para Portugal. Em meados de 1994, após servir como ministro das Finanças, Cardoso estava concorrendo à presidência - e o trabalho dela se tornou cada vez formal, embora a Globo continuasse a pagar seu salário.

Com Cardoso eleito, o seu braço direito, o Magalhães mais jovem, instruiu-a a não retornar ao Brasil por medo de comprometer sua reeleição. Quando a Globo cortou seu salário, um trabalho de ficção foi encontrado para ela, fazendo uma pesquisa de mercado na Europa para uma cadeia de duty-free, com direitos de monopólio concedidos em aeroportos brasileiros por Cardoso. Através desta empresa, seu relato implicaria, Cardoso lavou U$ 100.000 (apoio à criança ou suborno)  para ela através de uma das suas contas nas Ilhas Cayman.

A história veio à tona em fevereiro, no meio do tornado da mídia em torno de acordos imobiliários de Lula. A mídia fez com que ela recebesse a menor cobertura possível. A empresa está agora sob investigação para uma transação penal. Cardoso protesta sua inocência. Ninguém espera que ele sofra qualquer inconveniente.

O mesmo pode ser dito da oposição em geral?

Moro liberou seus grampos incendiárias em 16 de março. Uma semana depois, a polícia de São Paulo invadiu a casa de um dos executivos da Odebrecht, a maior empresa de construção na América Latina, cujo presidente acabara de ser condenado a 19 anos por suborno. Lá eles encontraram um conjunto de tabelas com listas de 316 líderes políticos e quantidades de dinheiro junto a seus nomes. Apareciam figuras importantes do PSDB, PMDB e muitos outros partidos - um panorama da classe política do Brasil. Objetivamente falando, esta lista era um trovão mais alto do que a conversa entre Dilma e Lula. Mas um menos conveniente: de Curitiba, Moro tomou medidas imediatas no sentido oposto, ordenando a colocação das tabelas sob sigilo para evitar mais especulação.

Ainda assim, um alarme tinha soado: a Lava Jato poderia sair do controle. Se Dilma devia ser derrubada, era essencial que isso fosse feito antes que as tabelas da Odebrecht pudessem ameaçar seus acusadores. Dentro de alguns dias, o PMDB anunciou que estava abandonando o governo, e a contagem regressiva para a votação de impeachment começou. A maioria de três quintos da câmara baixa, que parecia muito objetivo no início do ano, estava agora ao alcance.

Opinião respeitável indicou a farsa de um Congresso repleto de ladrões, Cunha encabeçando, solenemente depor um presidente de irregularidade orçamentária.

(...)

sexta-feira, 8 de abril de 2016

O recorte, a ruína e a construção.

Já não é novidade para ninguém: é possível contar mentiras falando só verdades. A cuidadosa organização de fatos e ideias pode construir conclusões, no mínimo, enviesadas.

A Míriam Leitão publicou esta semana um texto com o bombástico título de “A ruína econômica”. Ele trabalha a imagem de Brasil, terra arrasada, tão cara aos construtores da destituição da Presidenta Dilma. E, claro, arruma fatos incontestáveis de forma a induzir a conclusão inafastável: foi Dilma quem destruiu tudo.


Nesta altura do campeonato, acho que ninguém seria capaz de negar a péssima situação econômica do país. Também não dá pra negar a bagunça política e institucional instalada.

Mas talvez dê pra disputar a ordem dos fatores, que, se não altera o produto, pode sim tornar mais complexo o debate a sobre causas, efeitos e soluções.

Por outro lado, talvez existam outros fatores na construção da nossa situação econômica.

Não disponho do instrumental teórico para fazer, a sério, este debate – apesar de ter sim uma opinião sobre o assunto. E, antes que alguém acuse, sim, ela inclui responsabilidades da Presidenta pelo quadro atual.

Contudo, voltando ao texto da Míriam, dá sim para denunciar a estratégia discursiva adotada por ela - com direito a planilha cheia de dados corretos e de muitas lacunas, arrumados, ambos, para legitimar a opinião da jornalista. Na tabelinha (colada lá no final), ela compara dados econômicos do ano da eleição da Presidenta (2010) e atuais, provando que Dilma causou a “ruína econômica”.

O recado é claro: estava tudo ótimo; aí, veio Dilma; aí, tudo foi arruinado.

Então, tá. Não vou nem lembrar que, lá em 2010, a jornalista não dizia que estava tudo ótimo. Mas será que este recorte temporal (defensável, até) não esconde algo?

Fui atrás dos dados – e eles estão na tabelinha abaixo.



É óbvio que estes dados não desmentem o quadro ruim atual. A economia, de fato, vai mal. Mas, ao contrário da impressão passada pelo recorte escolhido pela Míriam Leitão, não, não descemos ladeira direto desde a eleição da Dilma.

Na verdade, alguns aspectos – como o desemprego! – chegaram a melhorar durante a gestão da Presidenta.

O que a Míriam Leitão fez, e, diante da sua experiência, não tenho porque fingir que não foi intencional, foi juntar dados e, principalmente, lacunas, de forma a excluir da análise, e de qualquer conclusão, uma série de fatores interpostos entre as datas que ela escolheu como referencial.

De novo, não tenho o instrumental teórico para fazer a sério o debate sobre as causas da nossa situação atual. Mas, de qualquer forma, parece bem ilógico tirar do debate, dentre outros, os seguintes fatores, cuidadosamente obliterados pelo recorte temporal feito pela Míriam:

- os efeitos econômicos diretos da Lava Jato, que completa dois anos e afetou setores da economia (construção civil e petróleo), investimentos e arrecadação, havendo quem a responsabilize por uma queda de 2% do PIB só em 2015;
- forte queda do preço do petróleo, iniciada em 2014, que também afeta o setor petroleiro (e toda a sua cadeia), com efeitos sobre os investimentos, o crescimento do PIB e claro, a arrecadação; e
- as incertezas políticas, já que, por acaso (morte do Eduardo Campos) ou por ação das oposições, desde meados de 2014, o Brasil não sabe muito bem quem estará no comando dentro de 6 meses.

Vamos pegar como exemplo os dados de 2013 - terceiro ano do mandato da Dilma e antes da "crise política", da Lava Jato, e da queda do preço do petróleo. O país não crescia mais a 7,5%, mas o desemprego havia caído, o IPCA e a dívida bruta não haviam subido e a SELIC estava mais baixa; e a situação fiscal tinha piorado, sim, mas não parece que de forma explosiva. (O dólar tinha subido. Mas isso é ruim?)

Exceção feita ao desemprego, que caiu!, o jogo começa a virar em 2014, ano de eleição, como lembra a Mírian, mas também ano da queda do preço do petróleo, do começo das propagandas da Lava Jato e do início das grandes incertezas políticas.

Mas estes dados e fatores foram intencionalmente escondidos no texto e nesta tabela da Mírian, que, assim, cria sua verdade sem contar nenhuma mentira, constrói com fatos e lacunas a responsabilidade exclusiva da Presidenta Dilma pela nosso situação atual:


******

Fontes dos dados:
Dívida: http://www.bcb.gov.br/htms/Infecon/seriehistDBGGFC.asp
Resultados: Ipeadata : Necessidade de financiamento do setor público (NFSP) - setor público - conceito primário - sem desvalorização cambial - acum. 12 meses e Necessidade de financiamento do setor público (NFSP) - setor público - conceito nominal - sem desvalorização cambial - acum. 12 meses

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Dilma e suas prioridades: Mariana x Chico

As mentiras vão sendo contadas e repetidas. E novamente repetidas. Até que, de repente, elas assumem a cara da verdade.

Verdades? Mentiras? Fatos? Versões? Tudo balela, né? Não existem verdades, apenas pontos de vistas e tal.

Pode ser. É uma discussão filosófica bem interessante.

Mas, aqui no nosso dia a dia mais corriqueiro, acho que dá pra gente lidar com conceitos mais rasteiros. Aconteceu ou não aconteceu?


Pois bem.

Bastou a Dilma manifestar repúdio ao ataque sofrido pelo Chico Buarque para determinada mentira (versão?) voltar a ser repetida mil e tantas vezes. Danem-se os fatos! Vamos repetir a nossa versão - até ela parecer verdade sabida.

Tem acontecido um sem número de vezes. E não vai parar, eu sei.

Mas vamos lá. Faça uma pesquisa, por exemplo no seu Twitter. Digite Dilma e Mariana.

Aí vai um exemplo dos resultados que você encontrará:


Lindo. Critica-se a escolha de prioridades da Presidenta com esta premissa: ela demorou mais pra falar de Mariana que do Chico. Segundo esta verdade sabida, Dilma teria levado uma semana para falar sobre as barragens da Vale/BHP/Samarco

Tivesse isso ocorrido, poderíamos debater sobre a escala de prioridades das mazelas nacionais. Um debate necessário, sem dúvida.

E, pra ninguém precisar supor, lá vai minha posição: o acidente  (crime?) ocorrido em Mariana é gravíssimo; mas nossa onda de intolerância (de qualquer lado!) também o é.

Agora, o problema é que, debates filosóficos à parte, a premissa da critica é falsa! Isso mesmo: é mentira! Pra esclarecer: não é factual, naquele nível suficiente para o nosso cotidiano medíocre.

Quer ver? Taí, na imagem abaixo: o perfil da Dilma no Twitter no dia 06/11, dia seguinte ao da tragédia provocada pela Vale e seus sócios.


É obvio que a reação da Presidenta ao desastre de Mariana não pode ser medida por uma publicação no Twitter. É possível debater se o seu governo agiu ou não rapidamente.

Mas esta não é a questão aqui.

As postagens criticam a postura da Dilma por sua manifestação no Twitter. E, bem, neste caso, como em muitos outros, a base da crítica é simplesmente falsa.




quinta-feira, 5 de novembro de 2015

um sete cinco (III)


capa a biblioteca da piscina


"- Ele é neto do Beckwith - disse Nantwich, como se quisesse cortar a possibilidade que Staines estava começando a esboçar."

Hollinghurst, Alan. A biblioteca da piscina.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

um sete cinco (I)


O outro lado da moeda oscar wilde capa



"Por exemplo, tão logo a porta se fechou às suas costas, a dama tomou Teleny em seus braços e deu-lhe um longo beijo. O abraço deles teria durado vários segundos mais, se Teleny não tivesse perdido o folego".


um sete cinco


K capa


"É isso, Mineirinho, vamos espalhar boatos de onde os corpos estão. Um boato atrás do outro. A gente solta um, dá um tempo, tipo um mês ou dois, depois solta outro. Vamos matar esses caras de canseira. Aquele teu tio do churrasco em Ibiúna ainda trabalha de corretor? Mineirinho, peça para ele escolher lá na lista de sítios em oferta um que seja grande e tenha muro alto. De preferência vazio.Você pega a localização, e passa pra esses familiares, do jeito que você fez com o Juqueri. Só que agora é o morto, o cadáver. Você só dá a pista, não dá endereço completo. deixa eles mesmos pensarem que encontraram".

sábado, 17 de outubro de 2015

FMI repete Dilma: Lava Jato causou queda do PIB brasileiro. Cadê as manchetes?




Em 27 de julho, a Dilma afirmou que a Operação Lava Jato "(...) provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro".

No dia seguinte, O Globo saiu com a capa aí de cima, com a manchete marota, dando a entender que a presidenta fica procurando novos culpados para a crise a cada momento. Entretanto, tudo que ela dissera é que parte da cada do PIB pode ser explicada como efeito das investigações.

O genial economista Rodrigo Constantino publicou um texto sobre o assunto. Compara Dilma a uma criança procurando culpados pelas suas próprias traquinagens, debocha da análise da presidenta, mas não apresenta nenhuma razão que demonstre equívoco da assertiva dela. Sei lá, vai ver que a economista dele estava de férias.


Mais de um mês depois, foi a vez do juiz Sérgio Moro reagir. O magistrado embaralhou as coisas e se saiu com a estapafúrdia comparação: "não é o policial que descobre o crime, o culpado pelo cadáver". Para que a comparação fizesse sentido, Dilma teria que ter culpado a Lava Jato pelas propinas ou pelo sobrepreço em obras. Ou a Lava Jato investiga a queda do PIB brasileiro?

De qualquer forma, acho que o juiz perdeu uma bela chance de ficar calado. Dilma não criticara a operação; ela apenas indicara um efeito colateral adverso da apuração.

Aliás, muitos remédios para doenças graves os tem, e apontá-los não significa crítica ao seu uso. Por outro lado, fingir que estes efeitos adversos não existem impede que se adeque a "posologia" e que se busque maneiras para mitigá-los.

Enfim, agora, passados quase três meses, o insuspeito (neste ponto!) diretor do FMI foi além da Dilma. Ele não disse, como a presidenta, que parte da queda do PIB brasileiro é efeito da Lava Jato. Ele afirmou que a contração da economia brasileira este ano decorre principalmente da "paralisia dos investimentos privados para esperar para ver onde vai dar a investigação dos escândalos", e não apenas de questões macroeconômicas.

Fico pensando: o que Moro pensa disso? Constantino vai pintar lá na sede do FMI e se oferecer para um debate econômico com o diretor do fundo?

Mas, sobretudo, tenho uma dúvida: esta informação não mereceria capa de O Globo? Os leitores do jornal não merecerem receber esta informação? Se o chefão do FMI tivesse dito o contrário, que a Dilma estava errada, a fala teria rendido manchete?


RIO  -  A queda prevista do PIB brasileiro de 3% este ano não é explicada apenas por questões macroeconômicas, mas principalmente por uma paralisia dos investimentos de empresas, diante da expectativa de saber como vão terminar as investigações em curso na força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmou nesta sexta-feira Otaviano Canuto, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

“Estou entre aqueles que acham que a desaceleração do PIB este ano no Brasil não é explicável por questões macroeconômicas stricto sensu. Ela é principalmente explicada por uma paralisia dos investimentos privados para esperar para ver onde vai dar a investigação dos escândalos”, afirmou, durante assembleia do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), no Rio de Janeiro. O FMI espera queda de 3% no PIB brasileiro em 2015.

(Continua)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Como, em 10 anos, o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 90%.

Perdoem a tradução...




Desde 2004, o Brasil tem trabalhado com sucesso para desacelerar o desmatamento na Amazônia, principalmente fazendo cumprir as leis, mas também com a inclusão de partes da floresta tropical em parques nacionais.

O desmatamento na floresta amazônica brasileira despencou na última década, enquanto o governo fez novos acordos com os agricultores e pecuaristas e fez cumprir leis contra quem desmata ilegalmente a terra.


A aplicação das leis existentes contribui foi a maior contribuição para a queda das taxas de desmatamento, disse, ao The Christian Science Monitor, Daniel Nepstad, diretor-executivo do Earth Innovation Institute, uma organização de pesquisa de métodos agrícolas sustentáveis. A "estratégia de comando e controle" penaliza quem derruba florestas ilegalmente.

"Isso foi possível por meio da aplicação na prática de regulamentações prévias e novas", contou o Dr. Javier Godar, um pesquisador do Stockholm Environment Institute. Ele diz que a aplicação da lei exigiu a melhoraria na forma como a floresta estava sendo monitorada.

Desde de 2004, o governo do Brasil protegeu a metade de sua área na Amazônia do desmatamento, incluindo-as em parques nacionais, de acordo com GoodNewsNetwork. A quantidade de terra floresta desmatada anualmente no Brasil caiu de 10.500 acres em 2005 para 1.850 acres em 2014.

O desmatamento atingiu o pico em 2003 e 2004, quando o Brasil derrubou 10.700 acres, mas, em 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a trabalhar em políticas governamentais para conter o desmate, o Los Angeles Times.

Os agricultores têm estado na raiz da mudança, diz o Dr. Nepstad. Alguns estavam removendo florestas para plantar soja, mas a "Moratória da Soja" e o "Acordo do Gado" tirou dos mercados legais os agricultores e pecuaristas que estavam derrubando mais floresta.

“A Recuperação da floresta é frágil, diz Nepstad. Manter a atual baixa taixa de desmatamento demandará esforços. Ele sugere que o sistema precisa de mais "cenouras" - incentivos positivos para os agricultores e pecuaristas que se abstêm de desmatamento.

Alguns produtores de soja brasileiros mudaram para a Bolívia e o Paraguai, mas os pesquisadores não sabem se eles mudaram por causa da repressão ao desmatamento no Brasil. Dr. Godar diz que, para alcançar este objetivo, a presença do governo na Amazônia aumentou, mas o combate ao desmatamento não precisa impedir os agricultores brasileiros de trabalhar sem derrubada da floresta.

"É importante dizer que há uma abundância de áreas abandonadas na Amazônia - especialmente pastagens semi-abandonadas de baixa produção”. Então, há espaço para aumentar a área de cultivo produtivo sem desmatar grandes áreas da Floresta Amazônica", ele disse ao The Christian Science Monitor.

A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, disse que o foco na aplicação das leis continuará, e o Brasil tem o objetivo de acabar com todo o desmatamento ilegal em 2030, reportou o Los Angeles Times. Para ajudar a atingir esse objetivo, a chanceler alemã Angela Merkel comprometeu-se a dar 618.000.000 ao Brasil, depois que ela visitou o país em agosto, com muito disto reservado para o trabalho na floresta tropical.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

S&P: das 15 maiores economias, cinco tem viés negativo, Alemanha e Canadá entre elas.



Então é isso: a Standard & Poor´s reviu a perspectiva do risco econômico para investidores no Brasil.

Mantivemos a nota e o tal "investiment grade", mas, segundo a empresa, a tendência não é boa. Nossa nota pode diminuir na próxima avaliação.

Mesmo que voce, como eu, veja estas avaliações com desconfiança, a notícia não é boa. Muita gente, gente com dinheiro, não compartilha nossa opinião e toma decisões de negócio e investimento olhando para estes "ratings".


Por outro lado, a notícia poderia ser pior. Tinha muita gente por aí prevendo, apostando (torcendo?), que perderíamos o grau de investimento. Ficamos a um passo disso, mas não perdemos. Menos mal. Talvez..

De qualquer forma, triunfantes (com a nossa suposta derrota como país), os insuspeitos analistas de sempre, aqueles mesmo que fingem não existir uma crise mundial, apregoam: "viu, a crise brasileira colocou nossa nota em viés negativo".

Beleza: ponto pra eles.

Mas... será?

Hoje de manhã, a mesma S&P publicou no twitter o gráfico acima, com o risco e a perspectiva de risco das 15 maiores economias mundiais.

E o que ele mostra? Entre outras coisas,

(1) que sim, a S&P nos vê com risco alto - mas empatado com a Espanha e, vejam voces, a China e melhores que a Rússia;
(2) que, dos 15, apenas 2 países tem perspectiva de risco positiva - Reino Unido e a sofrida Espanha (dos 25% de desempregados); e
(3) que mais 4 países tem perspetiva de aumento do risco - Rússia, Índia, Canadá (sim, o Canadá) e Alemanha (isso mesmo, a poderosa Alemanha).

Sei não, mas não me parece exatamente um quadro mundial de economia bombando. Ao contrario, na média, de orelhada, não seria mais sensato falar em uma situação de perspectiva de aumento de risco para a economia mundial? Ou, ao menos, trabalhar com essa hipótese nas análises?

terça-feira, 28 de julho de 2015

Brasil começa a corrigir atraso na área biofarmacêutica, diz especialista




O setor biofarmacêutico brasileiro está com cerca de 30 anos de atraso em relação aos países desenvolvidos, de acordo com Leda Castilho, professora de Engenharia Química do Instituto  Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ). Nos últimos anos, porém, o governo federal detectou esse atraso e o seu impacto na balança comercial e começou a investir na área, disse ela hoje (27) à Agência Brasil.

Leda Castilho salientou que há um déficit grande na área de saúde, em grande parte decorrente da necessidade de importar produtos biotecnológicos para a saúde humana. Algumas empresas biofarmacêuticas, segundo ela, foram criadas individualmente ou em consórcio com outras companhias, no país, apoiadas por financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


As aprovações de empréstimos do BNDES entre 2004 e 2015 para esse segmento somam R$ 617 milhões, o que representa 14% da carteira de aprovações totais do banco, relativas às três fases do Profarma, o programa de apoio ao setor. Os projetos em análise na área de biotecnologia equivalem a 52% do total e alcançam R$ 500 milhões.

Os investimentos permitiram, inclusive, que uma das empresas financiadas, a Recepta Biopharma, criasse um produto inovador (anticorpo monoclonal) que acaba de ser licenciado para os Estados Unidos, visando o desenvolvimento de remédio para o tratamento de câncer. Segundo Leda, é a primeira vez que o Brasil não está comprando uma tecnologia do exterior. Ao contrário, "estamos vendendo para os EUA a tecnologia de um novo produto, moderno, para a saúde humana“. As vendas do setor de biofármacos superaram US$ 160 bilhões no ano passado. “Hoje em dia, o setor biofarmacêutico já representa 20% das vendas da indústria como um todo. E é um percentual crescente”, adiantou.

A professora Leda informou que dos 41 mil novos produtos para a saúde humana com testes clínicos em andamento no mundo, 40% são produtos biotecnológicos. “O setor biofarmacêutico está se tornando cada vez mais importante”, segundo ela. Na avaliação dela, o Brasil está dando os primeiros passos para participar desse mercado mundial. “Está montando as primeiras fábricas para passar a produzir daqui a alguns anos”, disse.

A produção de biofármacos em cultivos de células animais é o tema do sexto seminário internacional promovido a partir de hoje (27) pelo Programa de Engenharia Química da Coppe-UFRJ. O evento se estenderá até a próxima sexta-feira (31) e reunirá especialistas de universidades e da indústria de 13 países.

Para que o leitor possa entender a importância do seminário, biofármacos são produtos biológicos usados para fins terapêuticos. Leda Castilho explicou que no mundo existem medicamentos tradicionais, como aspirinas, por exemplo, que são produzidos por síntese química. Mas desde a década de 1980, começaram a chegar ao mercado, “e de forma crescente nos últimos anos”, medicamentos produzidos por biotecnologia. "São medicamentos que a molécula é muito mais complexa. Por isso, não dá para produzir pelas vias tradicionais, e tem que usar biotecnologia na fabricação. Eles usam células que foram, um dia, isoladas a partir de animais. Essa ferramenta é utilizada para produzir os modernos medicamentos biotecnológicos, explicou.

Durante o seminário, serão discutidas todas as etapas para o desenvolvimento dessas biotecnologias e sua aplicação industrial, disse ela. A manipulação genética da célula, visando a produção de uma cópia da proteína humana – para que ela possa ser injetada em um paciente e suprir uma deficiência que ele tenha em produzir aquela proteína, como ocorre em doentes com hemofilia – será um dos temas em debate, adiantou Leda.

Os especialistas vão discutir desde a modificação genética da célula até a propagação dessas células com a cópia do gene humano, de modo a que elas produzam grande quantidade da proteína humana. A purificação dessa proteína e aspectos regulatórios e de mercado, envolvendo a realização de testes em animais e testes clínicos (em humanos), também estarão na pauta do seminário, disse Leda Castilho. Os especialistas abordarão ainda outros produtos biológicos relevantes também fabricados a partir de células animais, como vacinas e terapias celulares.

domingo, 26 de julho de 2015

Ex-beneficiário do Bolsa Família, estudante brasileiro apresenta projeto sobre hanseníase em Bruxelas.

Do Portal Brasil.


ESIMundi


Trabalho foi um dos 20 escolhidos para a Expo-Sciences Internacional; mãe destaca importância do Bolsa Família para garantir que jovem chegasse ao ensino superior

Aos 19 anos, o jovem estudante de Comunicação Social, Raimundo Otávio Ribeiro Neto, morador de Campo Maior (PI), embarca neste sábado (18) para Bruxelas, Bélgica, para representar o Brasil na Expo-Sciences Internacional (ESIMundi).

Raimundo e Nazaré Andrade, colega do estudante, desenvolveram o projeto Diagnóstico e acompanhamento dos casos de hanseníase nas unidades básicas de saúde na zona urbana de Campo Maior, que ganhou o direito de representar o Brasil em um dos maiores eventos científicos do mundo após ter ganhado o título de melhor projeto da II Feira de Ciência e Engenharia do Estado do Amapá.


“É uma satisfação representar meu estado e meu País. Meu objetivo é levar o projeto para a universidade”, destaca. A viagem está sendo custeada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi).

O estudante desenvolveu o projeto durante o ensino médio no curso profissionalizante de Técnico em Enfermagem no Centro de Ensino Profissionalizante de Tempo Integral, quando descobriu que seu município apresentava dados preocupantes de hanseníase. “Temos 45 mil habitantes e 80 casos da doença”, conta Raimundo.

Os jovens então resolveram trabalhar no projeto e realizar o sonho de conscientizar as pessoas, por meio da divulgação em veículos de comunicação, sobre a importância do tratamento da doença. “Multiplicamos a informação para minimizar o preconceito e mostrar que o tratamento é simples, leva de seis meses a um ano.”


Maria Amparo, mãe de Raimundo, conta que a educação sempre foi vista pela sua família como algo essencial para que eles pudessem ter uma vida melhor.  Até o mês passado, a família era beneficiária do Bolsa Família. Maria Amparo utilizava a complementação de renda para alimentação e na compra de remédios. Raimundo reforça a importância do programa. “Na escola, alguns alunos tinham melhores condições. Com o Bolsa Família, conseguimos comprar uniforme, sapatos, material escolar.”

A irmã, Jamile Loides Otávio Ribeiro, 23 anos, também ingressou na faculdade. Ela está cursando licenciatura em Biologia na Universidade Estadual do Piauí, em Campo Maior. No ensino médio, fez curso técnico de Higiene Bucal. Ainda concluiu um curso profissionalizante de Maquiadora, pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Maria Amparo conta que devolveu o cartão do Bolsa Família porque a filha conseguiu um emprego com carteira assinada. “Jamile foi umas das 10 selecionadas, entre 80 candidatos, por uma rede de farmácias para trabalhar como operador de caixa. Teve prova de português e matemática, entrevista e teste psicológico.”